O irritante torcedor de final

0 Postado por - 11 de novembro de 2016 - Artigos

Ele não se importa com mais ninguém. O que interessa é ele estar ali, no momento bom, surfando na onda da alegria. E é festa, não tente pedir para ele não ser babaca. Tudo é liberado. Ainda mais nesse período de seca de 15 anos. A última final que ele assistiu foi no Olímpico, ainda, em 2007. São nove anos praticamente apartado do Grêmio. Xingando na TV e indo em jogos decisivos. Seja por grana curta, seja por que não vê graça nos outros jogos. Seja sócio ou não. Temos cerca de 45 mil torcedores desse tipo que estarão mais uma vez na Arena dia 30/11.

Por do sol na Arena. Foto do Lucas Uebel/ Grêmio Oficial (via Flickr)

Por do sol na Arena. Foto do Lucas Uebel/ Grêmio Oficial (via Flickr)

E ele vai com o seu melhor espírito, que é o de porco. Que se fodam tudo e todos, ele vai torcer do jeito dele e ai de quem queira intervir. De pé, porque é assim que se torce. É final, vovô. Fica em pé aí. 80 anos de idade é desculpa. Sair da frente dessa criança de quatro anos para que ela também possa ver o jogo? Eu não estou vendo o jogo, estou bêbado, o titio vai ficar aqui na tua frente de pé. Aprende desde pequeno que isso é que é futebol. Ei, gostosa, vem sentar aqui no meu colo. Não te ofende, querida, estou te elogiando, se tu fosse um dragão eu não convidava.

Eu sempre fico impressionado com o torcedor de final. Como ele consegue essa façanha de passar às vezes meio ano sem ir ao estádio e achar que a maneira como ele torce é que é a certa. Não interessa se o vovô de 80 anos e a criança de cinco estiveram lá na Arena desde Grêmio x Veranópolis. Que viram um dos únicos pênaltis assinalados à favor do Grêmio em cima do Everton ser convertido pelo Luan naquele 2×0 no Coritiba. Eles não merecem assistir o jogo porque não sabem torcer, segundo o torcedor de final. O certo é ficar de pé pra cantar e incentivar.

Eu canto com a boca. Ficar sentado só abafaria a voz de quem canta com o cu. E, olha, acho que é nesse sentido que a coisa vai. Porque é muita merda que sai quando o torcedor de final abre a boca pra justificar a sua imbecilidade. Quem vê ele (na grande maioria são homens, mas tem mulheres também) acha que nunca fará 70 anos. Que seu joelho sempre estará bem para ficar em pé em qualquer escanteio, não interessa quem está atrás (aliás, no ano inteiro acho que temos uns três gols nessa situação, mas quem se importa?) Que nunca vai ter filhos e precisar ver o jogo inteiro no colo porque é a única maneira deles assistirem alguma coisa.

O pior é que o clube também parece adorar o torcedor de final. Porque não dá nenhum tipo de suporte para que o vovô de 80 anos e a criança tenha o mínimo de possibilidade de ir a uma final. Aqueles que viram toda a trajetória sentados – porque não existe outra maneira deles verem – não tem defesa alguma contra o senhor da verdade, o torcedor de final. Seria muito fácil dividir espaços para quem gosta de assistir o jogo com o torcedor de final e outros para quem é torcedor normal. Mas não. Fiquem em casa, vovô, é jogo grande – essa é a mensagem cifrada do clube.

Teremos mais uma final agora. Outras virão. Vencendo ou perdendo, essa situação parece que não vai ter fim. Depois o clube reclama que só 12 mil foram assistir o time atingir a primeira posição do Brasileiro. Enquanto não fizerem o mínimo para organizar minimamente os ingressos e a disposição do público no estádio seguiremos assim. Enquanto não se preocuparem com toda a experiência de campo, em educar o seu torcedor a respeitar o próximo, 12 mil é muito mais do que merecem. Torcedor de final: se toca. Seja gente.

PS: As crianças são particularmente achincalhadas pelo Grêmio. A diferença entre o sócio e o não sócio é o ingresso e o voto. Porém, crianças à partir de 3 anos, para terem direito ao ingresso liberado ou a compra prioritária, precisam pagar exatamente o mesmo que um adulto. O que faz com que apenas alguns que tem dinheiro sobrando coloquem os filhos nessa condição. A maioria leva nas promoções de R$10,00 por jogo que ocorrem “na ruim”. Aí, na final, levar criança é uma roleta russa: o adulto compra o seu e não pode comprar o seu acompanhante até que se abra a venda para o público geral. Ou seja, criança vai se sobrar, ou paga inteira para ter metade dos direitos (a final, não pode votar até não ser mais criança). É risível, pra dizer o mínimo.

OBS: muita gente veio nos comentários reclamar que eu estou falando mal de quem mora longe e vai pouco ao estádio. E eu sei bem o motivo: eu usei o termo “torcedor de final” no texto. Costumeiramente ele é associado a comparecer pouco ao estádio como se isso fosse uma coisa negativa (alguns usam “turista”, que tem o sentido tão repugnante quanto). É exatamente por ser usado dessa maneira negativa, ofensiva, que eu usei. Mas o recado não é para quem mora longe e só consegue vir de vez em quando nos jogos: é para aquele que se acha mais que os outros (sendo apenas um babaca) e só tem coragem de agir assim na presença de muitos. Não interessa quantos quilômetros percorra ou quantas vezes vá ao estádio por ano. Isso está escrito no texto. Não tirem o termo do contexto onde está inserido.

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16 + comentários

  • Mano 11 de novembro de 2016 - 14:40 Responder

    Gente do blog, que tá acontecendo com vcs?
    Resolveram tirar a semana pra meter pau no torcedor.
    O último post com aquela bobagem da Carol entrando em.campo.
    Agora esse de “torcedor de final”.
    Sério, estamos em busca de quebrar um jejum e estão prestando um desserviço ao Grêmio.

  • Gilso 11 de novembro de 2016 - 15:39 Responder

    Sou sócio torcedor por paixão ao time, moro a 500 KM de Porto Alegre e não poderei ir à final assistir meu time ser campeão, que não é desde 2010 (15 anos na conta de quem?) mas sou a favor de que abrisse a venda de ingressos para sócios até Setembro/2016 antes dos recém associados. Concordo que terão muitos torcedores de final nesse jogo. Torcedores que estão fazendo a carteirinha agora para conseguir ingresso, mas mesmo esses, não são menos Gremistas que eu ou você, são torcedores também, com sua paixão pelo tricolor!!! Acho que não podemos generalizar que todos que estarão na arena, são meramente “torcedores de final”…

    Abraços.

    • Fagner 11 de novembro de 2016 - 21:01 Responder

      Não é disso que o texto trata, Gilso. É sobre pessoas escrotas sendo mal educadas nos estádios com a desculpa de que “é final, que se fodam”. Esse é o torcedor de final ao qual me refiro.

      Saludos,
      Fagner

  • Juliana 11 de novembro de 2016 - 16:50 Responder

    Quem vai a todos os jogos agora se enxerga como abnegado. Deviam ver o quanto são privilegiados. Cada um sabe onde aperta, tanto no bolso quanto no tempo ou na distância para não ir a todos os jogos. Eu que sou sócia há anos, mesmo morando mais de 2000 km distante de Porto Alegre, vou ser torcedora de final. E não sou menos gremista que os 12 mil que estão lá todo jogo. Gostaria de estar aí, mas não dá pra ir de Brasília a Porto Alegre toda semana. Inclusive, o Grêmio e parte da sua torcida poderiam parar de nos enxergar dessa forma provinciana. O clube não se limita a Porto Alegre. Não se limita nem ao RS. Não se orgulham tanto do time ser gigante? Então deviam ter noção de que ser gremista não é mais sinônimo de ser gaúcho. Tem muito torcedor além das fronteiras, e não é só gente que saiu do RS pra morar em outros estados. Concordo com as críticas ao clube por não estruturar melhor o plano de sócios. Também sofremos com isso, não existe plano pra quem tá distante. Nem frete grátis pra comprar na loja o sócio tem. Por favor, parem de atacar os outros torcedores quando se sentirem prejudicados. Estamos todos na mesma barca, sofrendo com a incompetência mas esperançosos com o penta.

    • Fagner 11 de novembro de 2016 - 20:54 Responder

      Não, Juliana. Tu não vai ser torcedora de final. Não como esse aí que eu descrevi – uma pessoa intragável que não respeita idosos e crianças em nome de uma ideia mentirosa de como é torcer. Usando a quantidade de pessoas presentes como desculpa para ser um babaca. Acredito que tu seja uma torcedora que seja educada com todos e esteja ali para ver o jogo, não para ser como esses que eu chamei de torcedores de final em nome de um “bamo apoyá, é final tem que ver em pé”. É disso que trata o texto.

      Todas as tuas conclusões sobre distância, sobre portoalegrismo ou gauchismo para ser torcedor do Grêmio estão corretíssimas e eu partilho delas. Inclusive acho que o Grêmio é muito burro em permitir e endossar esse “gauchismo”. E eu não escrevi o contrário disso em momento algum no texto.

      Saludos,
      Fagner

  • Matheus 11 de novembro de 2016 - 18:11 Responder

    Post infeliz meu caro! A media de publico na segunda divisao era de 20 mil pessoas… entao a culpa nao é do torcedor, se tu considerasse o estadio novo e o tipo de administracao teu post ia ser coezo bro. Tricolor na final, vai dormir bem longe da arena com essa vibe negativa!
    Ass. Gremista(mais que tu) que mora na california 😉
    Saudacoes tricolores

    • Fagner 11 de novembro de 2016 - 21:49 Responder

      Olha, eu não sei de onde tu tirou essa relação. Eu falei que o público é baixo justamente porque a administração não valoriza o seu torcedor. E o motivo que esse texto aponta (já apontei vários outros em outras oportunidades) é permitir essa “queda de braço” entre o torcedor “mais torcedor que os outros”, que quer ver o jogo em pé, e pessoas que não podem fazer isso por questões físicas (ou porque querem mesmo, grande coisa). Essas desistem de serem sócias e irem regularmente ao estádio porque “não podem” ir justamente nas decisões. Foi esse perfil mal educado, “mais torcedor que os outros”, que chamei de torcedor de final. Ele é um problema do clube, que podia organizar melhor o estádio como um todo – mais setores para quem quer ver partida em pé (além do único já existente, na Arquibancada Norte) e APENAS sentados (que hoje é TODO O RESTO do estádio) já resolveria pra todo o mundo.

      Saludos,
      Fagner

  • Guilherme 11 de novembro de 2016 - 21:30 Responder

    Que texto lamentável. Preconceito é pouco pra definir isso.
    Fogo amigo a essa altura do campeonato…
    E pior que esse pensamento é bem comum entre “os que vão sempre”. Um dia, saindo da arena após a desclassificação na copa em 2013, um cara disse do meu lado: Isso é culpa dos turistas!! E pensar que eu cheguei às 4h da manhã em casa, tendo que estar no trabalho as 8h e ainda aturar piadinha dos colorados. Mas o que mais doeu foi ouvir que a culpa era minha e dos outros “turistas”.
    O que vcs parecem não ter se dado conta é que o Grêmio só é um clube de proporções mundiais também graças a essas pessoas, que vão pouco ao estádio, assim como eu.

    • Fagner 11 de novembro de 2016 - 21:40 Responder

      Tá escrito bem claramente ali o que eu chamei de “torcedor de final”: aquelas pessoas que não respeitam as outras porque “é final, tem que torcer em pé”. Não falei em “turista” em momento algum no texto. O torcedor que vai costumeiramente sabe onde vai quem quer ficar em pé e onde vai quem quer ver o jogo sentado, essa briga é praticamente inexistente. É apenas essa a diferenciação que fiz. Essa cultura de “jogos normais” deveria ser estendida a todo o público que se faça presente (uma ou duzentas vezes) sem interessar o tamanho do jogo. E a falha em disseminar isso (e providenciar mais lugares para quem quer ver o jogo em pé em outros lugares além da arquibancada norte) é do Grêmio. É só isso que o texto diz. Não é difícil entender.

      Saludos,
      Fagner

  • Vinicius 12 de novembro de 2016 - 07:54 Responder

    Bom dia irmão, que necessidade do blog é essa de reclamar de tudo essa semana?
    Vamos curtir esse momento de boa, o outro posto já tinha sido lamentável, esse agora não foi muito melhor. O Grêmio Libertador tem um público é uma história que merecem mais talento e nível do que esse achincalhamento, acompanho o site a anos, tô falando na boa, na construtiva sacou?

    Um abraço!

  • Augusto 12 de novembro de 2016 - 13:08 Responder

    Ótimo texto. Não tenho 80 anos e sim 56. Tenho uma cadeira na ala oeste e NÃO gosto de ver jogo em pé, bêbado e pulando feito um maluco. Vou na grande maioria dos jogos, e é sempre assim, grande jogo, torcedor caindo pelas tabelas, que nunca viste por ali, querendo cagar lei de como devo torcer, ou seja, do jeito que ele acha. Bando de babacas.
    Texto bem oportuno e que não tem nada de fogo amigo ou desserviço. Apenas foste a minha voz é de outras tantas pessoas que em ocasiões iguais a essa, pra não ir pro JECRIM, deixa pra lá e acaba vendo e torcendo pela metade. Mas com certeza, no começo do mês a minha mensalidade é cobrada por inteiro.

  • Imortal 12 de novembro de 2016 - 23:23 Responder

    É claro que deveria haver um sistema melhor estruturado para priorizar os sócios mais antigos e mais presentes.
    Mas, para uma parte da torcida, parece que é ruim o Grêmio ter chegado a uma final de torneio nacional, pois agora fica difícil conseguir um ingresso. Este post também passa tal impressão.

    • Imortal 14 de novembro de 2016 - 20:43 Responder

      Meu comentário não pode ser aprovado?

  • dexter holland 13 de novembro de 2016 - 07:24 Responder

    Caramba, vocês sentem uma necessidade imensa de querer pautar tudo e todos, né? Sem falar em rotular e julgar. Não à toa tem adoração pela esquerda afinal faz todo sentido com a ideia de cercear a liberdade individual e determinar formas de conduta.

    Hora é a Carol, hora é torcedor que não vai tanto ao estadio, hora é o cara que lança um xingamento contra um jogador adversario na cancha. Deve ser frustrante e torturante viver com tanto rancor.

  • Ezio 14 de novembro de 2016 - 09:27 Responder

    Em uma semana que tivemos que aguentar um velho gagá ser eleito presidente da federação mais influente do planeta e um palhaço ostentando dois cinturões de MMA agora temos que aguentar um espaço em que supostamente deveria mobilizar a torcida pra uma final tão importante como a do final do mês os blogueiros mandarem indiretas e cutucões. Gurizada a hora é de mobilização nada de tretas.

  • Marcelo 16 de novembro de 2016 - 20:44 Responder

    A intenção pode ter sido boa, mas o autor falhou miseravelmente. Lamentável.

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