Comando Digital

2 Postado por - 10 de junho de 2014 - Artigos

Lá se vão 10 dias desde o empate em zero com o Palmeiras, último jogo do Grêmio. Um empate que parecia desencadear uma revolução digital nas redes sociais, com queda de comissão técnica, demissão de jogador e até abertura de impeachment presidencial. Mas a gente sabe bem que essa verborragia toda fica no só virtual mesmo. Às vezes fico imaginando como seria se alguém dirigisse um time pela repercussão no twitter e facebook.

Assim que o time do Grêmio entrasse em campo para enfrentar o Palmeiras, seriam feitas 3 substituições porque o técnico não soube escalar direito: Pará, Edinho e Barcos, todos demitidos ali mesmo, na beira do campo, dariam lugar pra Tinga, Maxi Rodriguez e André Lima. Só que, antes do apito inicial, alguém descobriria que o Tinga está lesionado e André Lima está jogando em outro time. Assim, iríamos pro confronto com 10 jogadores, sendo um de muletas, mas pelo menos escaparíamos de tomar uma punição do TJD.

A bola rola e, com 2 jogadores a menos, o normal seria fazer de tudo pra segurar o empate, porém o time só tem um volante (Ramiro) e o comando das redes sociais não aceita empatar em casa com um time que vem da segunda divisão. Ou seja, o Grêmio tenta atacar, o que abre espaços generosos para o contra-ataque palmeirense. Não demora, Grohe salva uma bola que abriria o placar. Nesse exato momento, Paulo Sant’anna abriria o primeiro picolé da tarde. O treinador, ou melhor, o representante das redes sociais à beira do campo, pois não houve consenso sobre quem deveria ocupar o posto, grita e gesticula freneticamente para todos os jogadores em campo. Não importa o que está dizendo ou sinalizando, o Comando Digital quer que ele mostre indignação e é isso que ele está fazendo.

Foto: LUCAS UEBEL/GREMIO FBPA

Foto: LUCAS UEBEL/GREMIO FBPA

Após segurar o 0-0 por 10 minutos de pressão pura, Dudu tenta uma jogada individual e erra. O porta-voz das redes esculacha o jogador até não poder mais, afinal ele tinha que ter visto que o gomo com o bico da bola estava para baixo e isso certamente faria ela quicar diferente, favorecendo o marcador. O camisa 7 escuta calado e não questiona. O problema é que essa jogada gera um contra-ataque mortal: 1-0 pros paulistas. Pouco importa que a bola do gol era indefensável, o comando ordena Paulo Sant’anna jogar fora o picolé. “Ele tinha razão” vira trending topic. Ato contínuo, um dirigente desce das cabines, falando ao celular e com o contrato de empréstimo do Dudu nas mãos. Só ouvimos ele dizendo algo como “só estou fazendo o que me mandaram” e rasga o contrato diversas vezes. Assim, o jogador sai de campo logo ao 11 minutos e ficamos com 8 em campo. Mas nem tudo está perdido: por ordem do Comando Digital, esse mesmo contrato picotado é levado para o meio da Geral para ser usado como papel picado e deixar a festa mais bonita.

A goleada vira questão de tempo. Assim que placar chega a 4-0, ainda antes do final da 1ª etapa, uma mala com os pertences do Alan Ruiz é colocada na beira do gramado. Em cima dela uma passagem só de volta para Argentina. Como o ônibus (o Comando Digital disse que ele não merecia voltar de avião pra casa) só sai da rodoviária no intervalo, ele continua em campo apenas até o final do 1º tempo. A segunda metade do jogo será só com 7 jogadores.

Os quinze minutos de intervalo demoram uma eternidade com a busca pelos culpados pela goleada vexatória, mas mesmo assim, a ordem para volta é atacar. “Perdido por 4, perdido por 20” foi uma das mensagens mais retuitadas. Outra “somos imortais e já vencemos com 7 fora de casa, vamos pra cima deles” deixa claro que a obrigação de vencer era do Grêmio.

Logo no reinício, outro gol palmeirense. O Comando entra em parafuso. Nada surtiu efeito, lógico que a culpa é desses jogadores e seus salários astronômicos. Assim que o jogo terminar, todos terão seus dividendos reduzidos em 90%.

6-0. A situação se torna insustentável. Pela casamata já passaram nos últimos minutos Felipão, Mano Menezes, Tata Martino, Mourinho e até uma reencarnação de Oswaldo Rolla. A ordem agora é que os jogadores simulem lesões e forcem a interrupção do jogo. O primeiro a cair é o Rhodolfo e, em seguida, Rodriguinho se atira ao chão. O juiz interrompe a partida, não sem antes ouvir o cara que tá na casamata (ninguém mais sabe quem é) criticar a atuação cênica dos 2 que fingiram estar machucados.

Resultado: W.O. e, por ordem do Comando, não tem água quente no vestiário, fazendo com que os jogadores tomem banho frio. Também como forma de punição pelo desempenho, a descida da Serra é à pé.

No dia seguinte, jornais e sites estampariam a derrota com duras críticas. Mas não por muito tempo: o Comando Digital manda demitir todos, especialmente os blogueiros que ousaram ir contra a democracia digital, inclusive o autor desse texto idiota.

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2 + comentários

  • Fausto 10 de junho de 2014 - 19:28 Responder

    Haja criatividade hehehe!

    Mas nem precisamos de comando virtual para fazer essa cagada de se abrir feito louco num jogo em casa com o Palmeiras e acabar perdendo. Aliás, pagamos 700 mil por mês pro Luxemburgo nos proporcionar essa experiência e perder na matreirice pro Felipão. E lá se foi uma Copa do Brasil que tava caindo de madura!

    É lógico que se os dirigentes fossem se basear pelas redes sociais e tentassem atender os pedidos de todos, daria uma merda de proporções gigantecas (sei que esse adjetivo foi banido do vocabulário dos gremistas, mas em se tratando de merda, acho que dá pra abrir uma licença poética).

    Mas não custava eles darem uma olhada de vez em quando, filtrarem algumas coisas e enxergarem coisas que são apontadas e que parece que eles não conseguem ver.

  • Jair 11 de junho de 2014 - 03:53 Responder

    Ao menos teve a esperteza de sair na frente e logo taxar o próprio texto de idiota.

    E lembre-se que não precisamos destes malabarismos virtuais protagonizados por torcedores fanáticos por vitórias pra levar goleadas (como no Grenal) e enfileirar resultados de medíocres a horrorosos!

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