Quando a família atrapalha

2 Postado por - 15 de fevereiro de 2015 - Artigos

Não precisa ser um personagem de Game of Thrones pra manjar que a família é um conceito bem cheio de interpretações. Todos os dias sentimos isso na pele. Tem quem ame a sua família mais do que tudo. Tem quem ache que a família é sua, então, fica fácil, porque não precisa obedecer ninguém. Tem aqueles formados por famílias que os outros não aceitam como família. Mas, ao que parece, família é sempre algo que “merece” respeito. Mais do que um acaso genético, ou social, ou circunstancial, família é um “ente sagrado” (eca) a ponto de receber a atenção dos legisladores que lutam pelo poder de dizer o que ela é (com tudo o que tem direito – o que inclui a quem proibir de constituir uma, de receber herança, auxílios governamentais, etc). Então, o que para alguns é pertencimento, para outros é exclusão. O que para uns é carinho, pra outros é dor. Família não é, portanto, o mesmo pra todos.

Mais uma família feliz: os Lannister. Imagem da internet

Mais uma família feliz: os Lannister. Imagem da internet

Felipão ganhou a copa de 2002 com a “família Scolari”. Aquela família que cortou craques, que bancou perebas, mas que era unida e determinada a ganhar um torneio de dois meses. Isso coroou o rótulo de “paizão” que havia ganho nos anos 90 no Grêmio, no Palmeiras, no Cruzeiro. Um treinador multi-campeão com a construção de uma “família” no vestiário.

Pois bem. Como qualquer família, há quem adore, há quem não se encaixe. As “famílias” futebolísticas possuem um perfil traçado por um um chefe. Um cara poderoso que é a autoridade no elenco. E que pode conquistar isso sendo ríspido e duro, mas também sendo parceiro. É o caso do nosso treinador. É por esse motivo, por exemplo, que um ex-membro que causou desgostos vestindo verde não pode ser perdoado. É por isso que ele “não é bonzinho”. É por isso que é preciso manter segredo de certas coisas, continuar omitindo a outra metade da missa: manter as pessoas na ignorância faz com que seja mais fácil acreditar na palavra do pai, não nos fatos, não no nosso próprio julgamento.

A família do Felipão pode até ganhar campeonatos. Mas não é algo fácil de conseguir. É algo duro. É algo que dói pra quem não se encaixa no perfil. É algo que precisa ser imposto. É um poder que precisa ser tão poderoso a ponto de nem mesmo ser discutido. Um poder tão introjetado que se manifesta até por vontade do próprio sujeito que sofre (Foucault mandou lembranças). E quando ela é formada de muitos “filhos problema” ou ela se refunda de vez, ou enfrentará muita disputa pelo maior poder dentro dela. Por isso algumas lideranças treinam em separado. Por isso algumas instruções não são seguidas como deveriam. Por isso o jogador faz menos o que se ensaia nos treinos e mais o que acha melhor no momento.

A tentativa do Felipão de formar uma família de modelo tradicional não tá dando certo nesse elenco. Hora de ser democrático. Hora de ser liberal. Hora de deixar de tratar os jogadores como filhos, deixar os “mais comportados” como titulares e priorizar o futebol jogado. O mimo, o carinho, a “paternalidade” não tá rolando. Tem “filho problema” demais pra seguir assim. Ser “família” só tá atrapalhando.

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6 + comentários

  • Mano 15 de fevereiro de 2015 - 09:57 Responder

    Bah mas discordo completamente desse texto. Tu acha q o Felipão mudando de postura vai tirar mais desse elenco? O problema é muito maior do que postura do treinador.
    O problema é uma filosofia forçada pela necessidade, não pela qualidade dos jogadores. A postura do Felipão tem que mudar sim, mas mudar em relação à direção, dizendo “ou traz gente ou tô fora”.
    Temos um time que é talvez o mais podre, sem qualidade nenhuma e completamente despreparado, sem perna e sem cabeça, dos últimos 30 anos.
    E o ÚNICOlugar que vamos chegar com essa equipe todo mundo SABE, já estivemos DUAS VEZES lá.
    Vai pra puta que pariu Romildo e toda essa direção que trabalha contra o torcedor.

    • Fagner 15 de fevereiro de 2015 - 22:21 Responder

      Marcelo Oliveira e Fellipe Bastos só são titulares porque obedecem. Não tem futebol pra fardar no Novo Hamburgo. Tem gente melhor que tá no banco. O Felipão não é tapado, vê que o cara não tá rendendo. Então, só resta supor que o cara é de confiança. E isso mostra exatamente o que eu quis dizer com o texto.

      Saludos,
      Fagner

  • Fabio 15 de fevereiro de 2015 - 10:09 Responder

    Mas rapaz, a direção é ele mesmo, o Felipe. O resto só ocupa o cargo.

    • Mano 15 de fevereiro de 2015 - 11:39 Responder

      Como assim, Fabio? Tu ta dizendo que toda a limpa que foi feita é responsabilidade do Felipão? Não tenho procuração pra defender treinador, só pra deixar claro, mas parece difícil de acreditar que um treinador aceitaria de bom grado se livrar de todo o time do ano passado assim como aconteceu.

  • Rodrigo 15 de fevereiro de 2015 - 10:26 Responder

    É inadmissível um técnico abandonar a casamata! Não seria motivo de demissão por justa causa? E a máxima: “treino é treino, e jogo é jogo” não invalida o discurso do Felipão? Alguém leu o texto do Cosme Rimoli sobre o episódio Felipão x Kleber?

  • Eastwood 18 de fevereiro de 2015 - 08:45 Responder

    Não acredito.
    Viadagem no contexto, de novo!
    Se tua rosquinha coça, coça, coça, divirta-se cidadão.

    Família é família e não necessita definir.
    Viado tem que tomar de relho!

    https://www.youtube.com/watch?v=ZUqJiTwjXFg

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