Mudanças inevitáveis

2 Postado por - 14 de setembro de 2015 - Artigos

Passou mais de um ano até que as alterações no futebol nacional começassem a acontecer. E, parece, finalmente vieram – pra, pelo menos, começar a fazer os detentores do poder começarem a ter dor de cabeça. São duas frentes, distintas mas importantes: a Copa Sul-Minas e o juiz de televisão. E, mais do que a sugestão, a reação a essas duas propostas nos mostram bem o cenário do futebol nacional. Hoje vou comentar a arbitragem. Quinta falo sobre a Copa Sul Minas e o que pode significar.

Já falei aqui que a chatice da arbitragem estava demais e que algo precisaria ser feito. E uma das ideias mais óbvias – o juiz de televisão – virou o carro chefe da CBF. Não duvido que vá conseguir sucesso, já que não é a primeira federação a pedir isso pra FIFA (e não será a última). A pressão já colocou juiz eletrônico em lance de gol na Copa. Mas a cobertura que está recebendo dos meios de comunicação é bastante reveladora. Enquanto a ESPN parece mostrar que isso é um avanço, a Globo insiste em desencorajar. Seja colocando – prepare a risada – Arnaldo César Coelho, Gaciba e Marsiglia para dizer que isso é “ridículo“, seja para perguntar para os treinadores e dizer que “há divergências” sobre a sua aceitação.

As “reclamações” que aparecem mostram:

1- Preocupação com a geração das imagens: é óbvio, a geradora não pode ser interessada. Precisa haver critérios e igualdade na quantidade mínima de câmeras para todos os jogos, em todos os lugares. Ou seja, mais custos e a tendência que recaiam sobre a empresa que detém o monopólio das transmissões hoje no Brasil. A tendência é que isso acabe indo para a organizadora do torneio. E assanha a ESPN (Disney) e FOX na disputa pelos direitos, principalmente no que tange a diferenciação GERAÇÃO – TRANSMISSÃO (precisariam ser contratos diferentes?).

2- “Não dá pra parar o jogo“. Isso é de uma falta de vergonha atroz. Principalmente depois do que ocorreu ontem, onde o São Paulo controlou o relógio descaradamente, com a conivência do  juiz. E isso é considerado natural. No Futebol Americano, por exemplo, vários lances são finalizados antes da falta ser anunciada. Através de flanelas os juízes avisam que há falta no lance. Se houve vantagem, o cronômetro (que é parado nesses casos de falta) ainda retorna ao ponto anterior, dependendo do caso. Depois de terminado, diz-se qual foi, de quem foi e a punição. Não digo que se faça isso no nosso futebol, mas há outros lugares que existem no próprio jogo de onde não se exige “dinâmica” alguma e impactam bem mais do que tirar a dúvida da jogada. Inclusive gasta-se menos tempo ao evitar o tradicional cerco no juiz.

3- “A torcida não vai entender“. Em primeiro lugar, ninguém é burro, né, vamos nos respeitar. Essa é a primeira desculpa de quem se acha mais entendido que os outros (e é ligado ao “Observação” nesse texto). Se for mostrado o lance no telão a dúvida sobre o mesmo será mínima. Se liberar o som do juiz, então, como é feito no rugby, ficará ainda mais simples. Se a torcida entende os sinais do juiz, quando ele se digna a comunicar o que quer dizer, por que não entenderia uma novidade?

4- “Tem que fazer outras coisas, como X, Y e Z“. Ninguém está dizendo que problemas tem uma única solução. Muito menos que há uma única chance de salvar o futebol e temos só um tiro pra dar. Juiz de TV não impede que haja profissionalização dos árbitros (muito pelo contrário). Tem que fazer parte de um pacote maior? Ok. Mas não há problema algum em vir primeiro. Nunca mudar nada é o que o conservador adora pra manter tudo como está (ou seja, seu poder, seja qual for, inalterado).

Observação: Pra fechar, a maior parte do poder está, como era de se esperar, “NA REGRA”, este ente sagrado para os brasileiros. Numa sociedade onde os intérpretes da regra tem super poderes (juízes, advogados, etc) e são parte importante na composição da cartolagem, é óbvio que esse teatrinho do trabalho se repete no “lazer” deles. O Sálvio Espínola resvala ridiculamente nisso ao comentar o lance do Pato, que estava a menos de 9,15m da bola na falta que originou o gol do São Paulo: “o batedor não pediu para o juiz tirar o jogador de lá, então, PERDEU O DIREITO”. Nenhum dos dois cobradores estava olhando o jogador já que se posicionou nas suas costas.

E mais: o jogador em impedimento que recebe a bola vinda do poste para fazer o gol, ou o passe para o gol, ou puxar a jogada que originará o gol precisa também de solicitação ao árbitro? Como se faz isso, ainda mais em um ambiente onde não se pode falar com o juiz, sob risco de tomar amarelo? Finalmente, quem é que deu o direito ao Sálvio de dizer que alguém PERDE O DIREITO se faz determinada coisa? (não que isso seja específico de juízes, né, tropeçamos o dia inteiro em situações dessas nas mais diversas esferas da vida).

Ou seja: a arbitragem ficar como está garante poder para diversas esferas. Para o juiz de campo, para o comentarista de arbitragem, para a CBF, para a FIFA, para o canal de televisão que tem “os melhores analistas”. E se a “regra” é tão suscetível a interpretações, é óbvio: ela é insuficiente. Então, precisamos de mais dispositivos que diminuam a carga interpretativa, como em qualquer outro esporte. A regra precisa ser clara e igual para todos. Mesmo quando “ninguém está vendo” (viu Sálvio?).

Comparilhe isso:

3 + comentários

  • GILBERTO MACEDO 14 de setembro de 2015 - 19:47 Responder

    a velha fedorenta e seus fedorentos querendo manter a manipulação da propina,o falso parecer na análise de um sujo como estes que elas contratam ,justamente comentaristas que ganharam a vida sendo pagos pela globo pra tirar vantagens em apostas por traz dos bastidores com compra destes ex fuleros da arbitragem que deixam o futebol um puro lixo… é sempre a mesma porcaria, só nao entendo como isso ano apos ano acontece e nada de verdade pra acabar… eles compram até o stjd..que é lá …

  • Fátima Delazeri 15 de setembro de 2015 - 00:13 Responder

    A arbitragem brasileira é simplesmente uma vergonha, e roubam sempre a favor dos clubes de Rio de Janeiro e São Paulo, é fácil ganhar um campeonato com o juiz apitando tudo a seu favor, domingo Grêmio e São Paulo, é a prova viva do que falo, eu sou gremista e se não fosse pela arbitragem meu time teria ganho o jogo, porque meu time é de raça é lutador, ao contrario do São Paulo, que só sabe bater, e o juiz finge que não vê, vira a cara para o lado, e os comentaristas, que estão aí para analisar e comentar, falam um monte de abobrinha, mas o que mesmo acontece dentro de campo não falam, ou falam somente o que convém, é lamentável.

  • Jonatha Zimmer 15 de setembro de 2015 - 07:57 Responder

    PQP! Que texto fodástico!

    Parabéns pela forma como abordou o tema e como elencou os argumentos falidos daqueles, que como você disse, não querem mexer naquilo que os mantém no poder.

    Aguardo o texto sobre a Sul-Minas-Fla-Flu.

    Parabéns pelo texto.

  • Deixe uma resposta