Grêmio Libertador

Uma breve história das direções de futebol

A ideia de ter alguém remunerado para montar elencos é bastante recente. A reforma do estatuto do clube, em 2003, foi onde ela surgiu. Porém, na prática, só tivemos isso realmente consolidado e implementado quando caímos de divisão. Em 2005 essa figura surgiu no Grêmio e vem, nos últimos tempos, se tornando uma das principais dentro da estrutura. O próprio cargo de Vice de Futebol vem e vai nesse período. E a memória que trai é uma arma forte no momento das especulações. Assim decidi desenterrar todas as contratações do Grêmio desde aquele período e mostrar aqui pra compararmos.

Diretores na ordem: Mário Sérgio, Pelaipe, Rodrigo Caetano, Mauro Galvão e Cícero Souza

O primeiro diretor executivo de futebol remunerado para tanto foi o Mário Sérgio. Eu já fiz um detalhamento sobre as suas contratações quando escrevi a série contos da carochinha (o 2 e o 3; o 1 e o 4 falam do Odono e do Pelaipe). Em resumo, foram 34 contratados em um período de menos de um ano. Do time que entrou em campo nos Aflitos, porém, temos bem a ideia da sua contribuição naquele ano: Galatto veio da base; Patrício, Domingos, Pereira e Escalona foram trazidos por ele; Nunes veio da base, Sandro Goiano, Marcel e Marcelo Oliveira, obra do Mário Sérgio. Na minha avaliação, 8 jogadores foram boas contratações.

Todos os contratados desde 2005. Em verde as contratações boas, em amarelo as com algum porém e as em roxo são as fiasquentas. Clique para ampliar.

Quando ele saiu, depois da derrota contra a Anapolina, Pelaipe assumiu a função de ASSESSOR de futebol não remunerado (ao menos é o que oficialmente se dizia). Ainda na série B, junto com Renato Moreira, trouxe dois titulares dos Aflitos (Ricardinho e Lipatin) além do Beausejour, por DVD. Essa dobradinha ainda ficou junto por um período em 2006, até o título do Ruralito. Depois, Pelaipe assumiu sozinho o time até agosto de 2007. No período foram  33 contratações, sendo que 9 delas eu considerei boas e três com ressalvas. O fim da temporada foi melancólico. Pelaipe disse que não queria mais trabalhar de graça no Grêmio e Mano Menezes foi levado para o Corinthians.

Ainda em setembro de 2007, Rodrigo Caetano mudava de função indo para a direção executiva, ainda com o Pelaipe de assessor. O período rendeu ainda sete contratações. Não dá pra saber aqui até que ponto o trabalho é independente, dos dois ou de um só. Apenas parece improvável que o Pelaipe não tenha autorizado todas essas contratações. Ou seja, o período conta pra ele também, de qualquer forma. Apenas uma delas foi boa (porém espetacular para o futuro): Jonas. Assim, podemos considerar que a primeira passagem do Pelaipe rendeu 13 nomes aproveitáveis em 40, ou seja, 33%.

A partir de janeiro de 2008 até o final do ano, Rodrigo Caetano partiu para o seu voo solo. Foram 19 contratações para montar o time que acabaria como vice campeão. Com um ataque péssimo, ao menos fomos bem na defesa e Victor foi o cara, juntamente com Réver. São 4 boas contratações no período. No final do ano, uma proposta vantajosa do Vasco levou o executivo ao Rio de Janeiro. Desde aquela época, nunca mais saiu da cidade. Somando a parceria com o Pelaipe e seu voo solo, considerando as contratações com observação, dá um total de 7 e 27% de aproveitamento.

Mauro Galvão foi o nome para substituir o jovem promissor em 2009. Pela primeira vez um executivo de futebol era escolhido por alguém que não era o Odone. Duda Kroeff escolheu o zagueiro símbolo do título de 2001 para tentar levar o time ao título da Libertadores daquele ano. Com o time vice-campeão como base, o zagueiro reforçou o ataque, mas não teve sucesso. Dos 16 nomes contratados, apenas Mário Fernandes e Fábio Rochemback realmente contribuíram com o clube. Somando aos dois nomes que, com muito boa vontade, podem ser considerados com algumas ressalvas, dá um percentual de 25%.

Em novembro do mesmo ano, Galvão deu lugar ao Cícero Souza. Foi o Cícero o responsável pela montagem do último time que vestiu uma faixa de campeão de qualquer coisa pelo Grêmio – juntamente com o Guerra de Vice Presidente de Futebol. E foi um dos mais longevos na função, sendo demitido apenas depois que trocou a presidência para o retorno do Odono, em junho de 2011. No período foram 26 jogadores contratados, sendo que considero boas contratações oito deles. Somando dois razoáveis, dá um aproveitamento de 38%.

Outro de vida curta foi Alexandre Faria, contratado em junho de 2011. Não contratou ninguém e foi defenestrado junto com o pobre do Julinho Camargo para que o onipotente pudesse trazer novamente o seu amigão. Em agosto de 2011, retornava Paulo Pelaipe (pra infelicidade geral). Em dois anos de carreira solo e recebendo para isso, como queria desde 2008, foi responsável por uma lista de jogadores que nos dão dores de cabeça até hoje. Foram 23 nomes, sendo que apenas 3 podem ser considerados bons. Em compensação, 10 são, definitivamente, o oposto. Juntando os razoáveis, dá um aproveitamento de 22%.

O que podemos concluir com isso? Nunca tivemos alguém realmente eficiente na função. Os melhores números são do Cícero Souza, mesmo precisando engolir o Odono boicotando ele em 2011 – foram poucos nomes para quase três anos e o melhor percentual de acertos, o que significa que rendeu mais com valores mais baixos. Pelaipe é o que mais trouxe jogadores péssimos pro Grêmio (12/40, ou 30%  na primeira passagem e 10/23, ou 43% na segunda) – e isso que eu fui bonzinho. Mas a pior parte de tudo é que ele é o cara que mais causou problemas de relacionamento com os jogadores – com prejuízos sérios ao Grêmio. Seja na sua primeira passagem, seja na segunda. Ainda falta fazer um levantamento em reais dessas desgraças todas, mas analisar esses nomes foi um filme de terror.

Depois de todo esse levantamento, e somando com a atuação do Rui Costa, acho que apenas uma coisa é certa: chega de insistir nos mesmos nomes. Precisamos fazer algo diferente. E, principalmente, com alguém DE FORA DA PANELA, com visão moderna de administração de futebol. Tem vice de futebol para encarar a tarefa política. É necessário que o Grêmio tenha uma diretriz clara e um perfil de contratações. E o diretor executivo precisa fazer exatamente isso: executar esse plano, independente de presidência.

Comparilhe isso: