Futebol não é uma paixão mundial

4 Postado por - 1 de julho de 2014 - Artigos

Quem diz que a Copa do Mundo não é o maior momento do futebol mundial (apesar da FIFA, dos governos, das pornografias financeiras, dos estados de exceção, etc, etc) não pode ser certo da cabeça. Ou não gosta muito de futebol. O jogo entre Argélia e Alemanha foi melhor que um roteiro do Tarantino: reviravoltas, sangue, garra, determinação, momentos sublimes e o mocinho morrendo no final, pra se tornar mais uma lenda desse universo mágico. Até o pior jogo (Irã x Nigéria) não ficou atrás dos jogos do Brasileiro de 2014. A ponto de já inspirar depressões pós-Copa antes mesmo das quartas de final.

O futebol é um Espetáculo. É algo que já transcende o esporte (a ponto de alguns acreditarem que vencer tem prioridade – eu discordo): tem valores financeiros agregados, é vendável, consumível (corruptível… tá, parei). Um sucesso total. Mas, dá pra dizer que o mundo todo é tarado pelo futebol? Não, infelizmente. O esporte futebol, sem considerar os para-desportos, tem um irmão pobre: o futebol feminino. Alguns, do alto do seu machismo, dirão que “nem é um esporte”. Mesmo com a Marta, o futebol organizado na Europa e nos Estados Unidos. São jogos com dinâmicas diferentes e que sofrem de “colonialismo” – a despeito dessas dinâmicas, são visíveis as influencias das táticas do futebol masculino. Nada mais provável: na Olimpíada de Londres, apenas a seleção da Grã-Bretanha, por exemplo, tinha uma treinadora.

Lobas do Pelotas. Projeto de futebol feminino que existe desde 1996. Foto do site.

Lobas do Pelotas. Projeto de futebol feminino que existe desde 1996. Foto do site.

Qual é o problema do futebol feminino? Nem vou contar o machismo (que é o maior deles), mas vou ficar apenas pensando no produto futebol feminino como algo diferente do masculino. Como tornar os jogos mais atraentes? Não dá para cobrar esse futebol correria, força, contra ataque que vemos. Não pela capacidade física (com tempo e preparo podem se equiparar), mas para seguir sendo algo diferente e não precise concorrer com o mais difundido. E a resposta, obviamente, não vai ser a FIFA que vai dar – já que o abobado do Blatter já sugeriu deixar as roupas mais justas pra atrair público masculino (eu diria punheteiro, nesse caso).

Embora seja tão antigo quanto o masculino, em algum momento alguém convenceu as mulheres que futebol é coisa de homem (menos nos EUA, que eu saiba, onde é o contrário). O esporte “perdeu” a oportunidade de “evoluir” (essa palavra SEMPRE em aspas) junto. Não se profissionalizou na mesma proporção. Não se universalizou. Não é um sonho possível pras meninas pobres da periferia do Brasil, por exemplo, como opção de crescimento social. E mesmo assim tem muitas adeptas. Ou seja, no não acompanhar as mudanças, acabou conservando a paixão pelo esporte em si. A gana de jogar por um prato de comida, porque os salários dos times profissionais no Brasil não permite mais que isso. É no futebol feminino que ainda se pode dar um fusca pra renovar com uma atleta. É lá, portanto, que está o desejo da maioria dos saudosos do futebol de antigamente.

Mas só o saudosismo não vai criar público. A saída, creio, é ser o centro da inovação no esporte. A FIFA é uma lesma pra alterar como o futebol é jogado. É conservadora ao extremo, não quer arriscar. Assim, tudo aquilo que pensamos que poderiam ajudar o futebol a ser melhor poderia ser tentado onde o dinheiro ainda não comanda. Por exemplo, a criação de uma liga e a distribuição proporcional de cotas de TV, buscando o resultado esportivo como principal critério. Voltar o mata-mata no torneio, com menos datas, evitando jogos em épocas onde existem convocações e eventos internacionais (meio “louco”, como um campeonato pontos corridos no primeiro semestre, outro tipo Copa do Mundo no segundo, uma supercopa entre eles no início da temporada seguinte). Com quatro bandeirinhas, dois juízes – qualquer agarrão na área é pênalti, bola na mão falta sempre (como a regra do pé no hokey). Essas coisas que não alteram o jogo nas suas regras duras, mas pode melhorar o desempenho das atletas quando confrontadas com a dinâmica da FIFA (Copa do Mundo, Olimpíadas, etc). Num futuro distante, até o desafio (como no tênis, rugby, NFL) – o jogo segue rolando, juízes de mesa vão rever a jogada e, se vence, um pênalti no final do jogo pro seu time, se perde, não pode pedir mais até o final do jogo, chip na bola, tira-teima de impedimento, essas coisas. Regras de pontos que estimulem a ofensividade, os gols (que são a alma do jogo e o que torna essa Copa a melhor dos últimos tempos): 4 pontos pro vencedor, ponto bônus se fizer mais de três gols (como sugeri aqui).

Pra quem acha isso uma bobagem pelas razões desportivas (os machistas eu nem considero), como achar bobagem alterar o esporte para ser diferente, gostaria de lembrar dois exemplos. Pra quem não sabe, o Rugby masculino se disputa de duas maneiras distintas e, cada uma, com algo interessante: o Union e o League. São diferentes em dinâmica, estratégia, técnica, até na bola. Mas são Rugby – jogadores de uma modalidade migra pra outra sem muito drama. E, a mais emblemática: alguns não se lembram, mas até a Olimpíada de Barcelona, em 92, o basquete se disputava em dois tempos de 20 minutos. A FIBA alterou diversas regras do jogo para que o esporte voltasse a ser atrativo, já que estava perdendo muito para a NBA (os massacres nas Olimpíadas, por exemplo, não são mais frequentes). Ou seja, pior que está não fica; se ficar melhor, a FIFA vai acabar acompanhando. Só quem ganha é o futebol.

Mas, infelizmente, nem o Bom Senso tem o bom senso de olhar pra isso. Pena que o Grêmio não pareça estar nem um pouco interessado em liderar algo assim.

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2 + comentários

  • José 1 de julho de 2014 - 20:43 Responder

    Eu gostaria que o futebol feminino fosse mais popular. Eu adoraria que a Copa do Mundo feminina gerasse o mesmo hype e pudesse preencher o vazio até a próxima Copa do Mundo masculina. Eu adoraria poder assistir ao jogo de um time feminino do Grêmio na Arena, ou até mesmo na TV (fechada ou aberta). Enfim, é uma pena que o futebol feminino não receba nem 1/10 da atenção que recebe o futebol masculino.

  • LauroRM 1 de julho de 2014 - 23:40 Responder

    LINDAS!

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