Eu não ia falar sobre o cadastro biométrico dos torcedores da arquibancada Norte. Mas hoje, enquanto pilotava o twitter do Blog, fui surpreendido por questionamentos de torcedores sobre esse silêncio. O blog foi acusado (junto com a Tribuna 77) de “não se importar” com a “””discriminação””” da qual eles estavam se sentindo vítimas. E como não podia deixar de ser, geralmente quando gritam CADÊ [NOME]ISTAS NUMA HORA DESSAS, ninguém se importa em efetivamente saber onde esse grupo anda. Ou o que pensa. Na verdade, querem apenas dar uma reforçada na birra que tem contra esse grupo.
Por que se quisessem mesmo saber onde andamos, era só procurar no blog. Já nos manifestamos várias vezes sobre a questão da violência nos estádios. Eu, pessoalmente, já critiquei a criminalização do MP/Polícia sobre a Geral. Também bati pé contra a criminalização de formas de torcer. E nem foi ontem, muito menos caçando cliques. Até mesmo, veja, só, já criticamos aqui os pesos e medidas diferentes da segurança pública pra dupla Grenal. Aliás, a gente aponta isso mesmo quando a violência não é contra um gremista. Já atacamos e defendemos a Geral no mesmíssimo episódio, até.
Mas isso é parte de um contexto maior. Precisamos lembrar que torcedor é considerado marginal – pela BM e por setores da sociedade. Mesmo quando não é. Se a BM pudesse só liberaria jogos sem torcida alguma. E dentro da torcida como um todo, a Geral é aquela que a corporação mais odeia. E isso por vários motivos. Mas, o principal, é que ela não se considera uma torcida organizada. E isso traz muitos problemas pra Brigada – alguns que eu sou obrigado a concordar.
Mas esse é um post sobre o cadastro biométrico. Os parágrafos anteriores (além de uma defesa) serviram pra contextualizar esses poucos tópicos sobre o que ainda não abordamos sobre o tema.
- Isso é só por causa da Banda e dos trapos. O Grêmio assinou um Termo de Ajustamento de Conduta com o Ministério Público, O TAC foi firmado na véspera do 3×0 contra o Corinthians na Arena no dia dos pais de 2016. Citando a nota do clube na época:
Com o compromisso assumido, Grêmio e a Arena devem implementar um sistema de acesso biométrico para a arquibancada norte. Para tanto, o Clube está desenvolvendo o banco de dados que já conta com 138 cadastros, dos quais 52 já possuem o registro biométrico. Seguindo o acordo firmado junto ao Ministério Público e o Juizado do Torcedor, o compromisso do Tricolor é atingir o número mínimo de 300 torcedores cadastrados biométricamente, nos próximos 60 dias. Atingindo este montante, os ornamentos das torcidas continuarão liberados nos jogos na Arena até o final do ano.
- O caso que gerou a questão foi uma briga generalizada envolvendo o líder da Geral. A briga antes do jogo contra o Atlético Mineiro envolvendo o Alemão foi o episódio que levou o MP a dar mais 180 dias de punição a essa torcida específica. Naquele momento a Geral estava levando 360 dias de punição. Ou seja, a Banda estaria suspensa até o mês que vem, agosto de 2017.
- O Grêmio assinou porque quis agradar o torcedor. Até aquele momento, em 2016, o Grêmio havia ficado várias vezes sem a banda e os trapos. Mesmo em situações onde não havia briga. A alegação dos responsáveis era por que o Ministério Público sempre mudava de ideia antes dos jogos, dificultando tudo. Não estou aqui defendendo a direção, mas foi uma opção dela aceitar essa forma de padronização de procedimentos. A ideia era facilitar pra Geral e fazer a torcida parar de reclamar que tínhamos perdido “o fator casa”. Eu faria de outro jeito, que não envolveria cadastro biométrico algum.
- O Juizado do Torcedor/BM assinou porque quer atacar especificamente a Geral. E aqui eu nem vou entrar no mérito de que estejam errados. Embora eu entenda que a Geral é um conjunto de torcedores eles seguem não querendo amadurecer. Os avisos não faltam. Falamos aqui no GL há mais de cinco anos que eles precisam ser mais responsáveis – inclusive com cânticos racistas e homofóbicos. Eles se acham injustiçados, apenas. Uma hora a conta chega (parece que 2014 não foi lição o suficiente).
- A Geral (e a torcida em geral do Grêmio) também concorda com o cadastro – mesmo que diga que não. E aqui a conta é até simples. O cadastro biométrico serve pra achar em quem botar a culpa. Se eu individualizo a culpa, eu puno aquela pessoa e não o clube. Pra ser efetiva a punição essa pessoa não pode entrar no estádio e essa é uma das maneiras de fazer isso. Ou seja, é a individualização da culpa que tanto pediram no caso Patrícia, ao invés da generalização. Aliás, uma das únicas coisas sobre o tema da qual mudei de ideia desde 2014 (eu hoje sou à favor de punição DESPORTIVA ao clube além da criminal individualizada).
- O cadastro biométrico não vai resolver o problema da violência. Ou seja, vai resolver tanto quanto torcida única e tirar cerveja dos estádios. Infelizmente isso, pra quem está envolvido, é o de menos. O MP/BM consegue cadastrar a Geral, o Grêmio consegue a banda e a torcida em geral vai pro jogo feliz que tem menos marginal dentro da Arena.
- Quem mais sofre é o torcedor da arquibancada Norte – e a “culpa” é da Geral. Sim, vai ser um saco se cadastrar, vai ficar pior pra ir no jogo, ninguém sabe ao certo se vai dar pra emprestar carteirinha, quem vem pela primeira vez não vai querer comprar ali porque vai dar muito trabalho. E isso tudo se resolveria se a Geral fizesse o que a BM quis desde o início: virar organizada e cadastrar seus membros. A resistência – louvável, eu diria – é assim mesmo. Às vezes a gente precisa aprender a perder. As derrotas de hoje podem ser vitórias amanhã.
- Mas o torcedor precisa “sofrer” tanto assim? Essa é a grande questão. Sim, vai ser chato. Mas vai ser mais chato pra quem está “com o nome sujo” do que pra quem não fez nada. É uma daquelas coisas que irrita por vários motivos, exatamente igual a tantas outras que precisamos enfrentar fora do campo. E que, como tudo na vida, pode ser mudado. Não com gritedo no twitter, mas com organização e maturidade. Como todos os movimentos que mudaram alguma coisa no mundo.
- E o resto do estádio? O custo para um setor foi de R$ 800 mil. É bem caro. A lógica da medida manda que tenha em tudo. O não colocar em tudo já de cara sinaliza que a intenção não é essa. Provavelmente será feito aos poucos, como o próprio TAC (começou no ano passado, não esqueçam). Embora eu ache jogar dinheiro fora para os fins que o MP/BM querem atingir (a Geral, como exposto acima).
Acho que era isso. Se lembrar de alguma coisa não terei pudor em editar o texto. Comentários estão abertos, como sempre. Seja você da Geral ou não. Mas lembrem-se sempre: o cadastro biométrico é só um episódio de uma novela que começou há tempos. Desde a época que a Geral mandava a Imprensa Vermelha tomar no cu.